Sukot
5785 / 2024
15 a 21 de Tishrê / 16 a 23 de Outubro
Cinco dias depois de Yom Kipur, da noite anterior ao dia 15 até o dia 21 de Tishrê comemoramos Chag Sukot. E no dia 22 de Tishrê comemoramos Sheminí Atzéret e Simchát Torá, conforme o Judaísmo Reformista/Liberal e em Israel.
Em Sukot devemos cumprir pelo menos sete mitzvot (práticas espirituais):
(1) Construir a suká, (2) Sentar-se dentro e fazer pelo menos uma refeição na suká. (3) Celebrar e (4) se alegrar durante os dias do feriado. (5) Fazer tzedaká (doações para projetos sociais). (6) Chacoalhar os Arba Minim (Etróg, Luláv, Hadás e Aravá). (7) Acolher hóspedes na suká.
Alegrem-se nestes dias!
חַ֧ג הַסֻּכֹּ֛ת תַּעֲשֶׂ֥ה לְךָ֖ שִׁבְעַ֣ת יָמִ֑ים... וְשָׂמַחְתָּ֖ בְּחַגֶּ֑ךָ אַתָּ֨ה וּבִנְךָ֤ וּבִתֶּ֙ךָ֙ וְעַבְדְּךָ֣ וַאֲמָתֶ֔ךָ וְהַלֵּוִ֗י וְהַגֵּ֛ר וְהַיָּת֥וֹם וְהָאַלְמָנָ֖ה אֲשֶׁ֥ר בִּשְׁעָרֶֽיךָ
Celebre a Festa de Sukot por sete dias... Que se alegrem no seu feriado festivo: você, seus filhos e filhas, seus servos e servas, os levitas, estrangeiros, órfãos e viúvas das suas comunidades. (Deut. 16:13-14).
A mitzvá de nos alegrarmos em Sukot aparece três vezes na Torá: uma no Levítico (23:40) e duas em Deuteronômio (16:14-15). Segundo um midrash, devemos nos alegrar:
(1) Pelo feriado festivo em si mesmo.
(2) Por termos sido confirmados e confirmadas no Livro da Vida em Yom Kipur, dias antes.
(3) Por ser época de colheita e, presumivelmente, de prosperidade econômica.
Se em Pessaḥ aprendemos que devemos lutar pela liberdade para fazer nossas escolhas; em Shavuot, que a Torá é uma extensa obra de sabedoria e de experiências acumuladas até os dias atuais, o guia que nos orienta nos momentos das nossas escolhas; em Sukot aprendemos que o mais importante é atentarmos para as bênçãos que podemos encontrar pelo caminho das nossas vidas, no tempo presente.
Sukot não nos faz relembrar o sofrimento dos antepassados por 40 anos no deserto. Sukot ressalta tempos de entusiasmo, quando somos capazes de dormir em qualquer lugar, mesmo sem todo o conforto. Sukot nos mostra que podemos enfrentar os altos e baixos da vida com determinação e otimismo, porque acreditamos que, mais cedo ou mais tarde, alcançaremos o nosso objetivo. Comemoramos a jornada espiritual da vida: a caminhada deve ser celebrada.
A Suká
O principal rito é morar e/ou fazer as refeições na suká, tenda temporária cujo telhado é feito com material orgânico, como folhagens e bambu. Este deve nos cobrir e nos abrir para um contato direto com o mundo externo. A suká:
1) Nos faz recordar as tendas nas quais os israelitas viveram em sua travessia de 40 anos pelo deserto, da terra da escravidão para a terra da liberdade.
2) Lembra as tendas temporárias que eram erguidas pelos camponeses israelitas junto aos seus campos no outono, na época da colheita.
3) Simboliza as “nuvens de glória” (ananê hakavód) que acompanhavam os israelitas durante a longa jornada pelo deserto. Estas nuvens representam a Proteção Divina: quando os israelitas acampavam, as nuvens estacionavam por cima do Mishkán, a Morada Divina; quando o povo seguia viagem, as nuvens os acompanhavam dia e noite. Em outras palavras, a suká simboliza a Presença Divina em todas as nossas jornadas.
4) Permite que nos coloquemos no lugar de quem vive todos os dias de modo precário. Esta vivência deve nos sensibilizar a cumprir outras mitzvot, como combater a aporofobia (aversão a pessoas pobres) e colaborar com instituições e Ong’s que cuidam de pessoas em situação de vulnerabilidade.
Fragilidade Material e Proteção Divina
A suká lembra “A Casa” de Vinícius de Moraes: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...”. A sua graça está nisso: nos damos conta de que precisamos de muito pouco para sermos felizes e de que, através do seu telhado vazado, podemos contemplar o céu. Em certos horários, como ao entardecer, contemplar o céu desde a suká pode nos levar a admirar a Grande Obra da Criação.
A suká nos lembra que as tentativas de construir estruturas “definitivas” são ilusórias. De uma hora para outra, uma enfermidade, uma crise econômica ou um fenômeno natural podem destruir nossas moradas ou nos colocar para fora delas. Na suká nos alegramos não com os bens materiais, mas sim com o que possuímos no coração e na alma.
As Quatro Espécies/Arba Minim
Em Sukot cumprimos a mitzvá de juntar quatro espécies vegetais e chacoalhá-las de modo peculiar. São elas: Etróg (cidra), Luláv (ramo de tamareira), Hadas (dois ramos de murta) e Aravá (três ramos de salgueiro).
Lemos na Torá: “No primeiro dia, tome o produto das árvores “hadar”, ramos de tamareira, galhos de árvores frondosas e salgueiros do riacho”. (Levítico 23:40)
O salgueiro (aravá) e os ramos de tamareira (luláv) são mencionados explicitamente. O Talmud explica que o fruto da árvore “hadar” se refere ao etróg e os galhos de árvores frondosas se referem a hadás. Junto ao Etróg, as outras três espécies são reunidas sob o termo “Luláv”. A benção sobre as Quatro Espécies é conhecida como “Al Netilát Luláv”. O lulav, os dois hadassim e as três aravot são reunidos em uma cestinha trançada, feita com folhas de tamareira.
Segura-se o Luláv, os hadassim e as aravot – reunidos em uma cestinha trançada - na mão esquerda e o Etróg na mão direita. Juntar as mãos e recitar a braḥá:
Baruḥ Ata Adonai, Elohenu Meleḥ Haolam, asher kideshanu bemitzvotav vetzivanu al netilat lulav.
Abençoado seja, Adonai, nosso Deus, Soberano do Universo, por nos santificar com Suas mitzvot e nos ordenar erguer o lulav.
No primeiro dia também recitar, em seguida, a benção Sheheḥeiánu:
Baruḥ Ata Adonai, Elohenu Meleḥ Haolam, sheheḥeiánu vekiemánu vehiguiánu lazman hazé.
Abençoado seja, Adonai, nosso Deus, Soberano do Universo, por ter nos mantido vivos e persistentes para chegarmos até este momento.
As Quatro Espécies são chacoalhadas juntas diversas vezes nas rezas de Halel – momento especial voltado a louvar a Deus por meio de salmos – e nas Hoshanot, procissões ao redor do salão da sinagoga, acompanhadas de preces para que a natureza colabore com o nosso esforço de plantar e colher.
A sequência com que chacoalhamos os arba minim (as quatro espécies) é:
1. para frente,
2. para a direita,
3. para trás,
4. para a esquerda,
5. para cima; e
6. para baixo.
Este antigo costume pode ter muitos significados, entre eles: celebrar com alegria a colheita bem-sucedida do que foi plantado no passado; a gratidão à natureza e a Deus, que permitiram o sucesso da empreitada no presente; e o otimismo de que o futuro será próspero.
Ushpizin e Ushpizot
Em costume instituído pelos cabalistas, convidamos para a suká, como hóspedes especiais, os ushpizin e as ushpizot, nossos antepassados espirituais: Abrahão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacob e Lea, José e Raquel, Moisés e Miriam, Aarão, Shifrá e Puá, David e Ruth – um casal por dia, durante sete dias. Cada dia tem seu convidado e convidada de destaque. Podemos também convidar outros hóspedes espirituais para a nossa suká, pessoas que nos influenciaram espiritualmente, exemplos de virtudes como humildade, generosidade, respeito, justiça e amor. Podem ser judeus ou não, pessoas que nos iluminam e nos instruem, de tempos remotos ou dos tempos modernos, presentes no mundo espiritual.
Segundo o Zôhar, a suká gera uma concentração tão intensa de energia espiritual que a Presença Divina se sente no Pardês, o Jardim do Éden. É de lá que estes hóspedes espirituais vêm para se encontrar conosco.
Hoshana Raba, “a Grande Hoshaná”
Sétimo dia de Sukot. Neste dia temos a última oportunidade, ritualmente falando, de sermos perdoados/as por nossas transgressões do ano anterior.
Sheminí Atzéret, o oitavo dia de reunião
Nossos sábios contam esta bela história: um rei promoveu uma grande festa e convidou príncipes e princesas para o seu palácio. Depois de sete dias juntos, os hóspedes prepararam-se para ir embora. Porém o rei lhes disse: “Já vão? Está tão bom! Fiquem mais um dia comigo!”
Assim acontece conosco. Passamos dias felizes como hóspedes de Deus na suká. Deus também se sente feliz conosco; por isso nos convida para ficarmos mais um dia: Sheminí Atzéret. Nas comunidades judaicas reformistas e em Israel, este dia coincide com Simḥat Torá, quando é costume se realizar hakafot à noite e dançar com a Torá.
Passamos a inserir a oração “mashiv haruaḥ umorid haguéshem” (Deus move os ventos e faz cair a chuva) nas nossas preces diárias (na Amidá – nas sinagogas reformistas; ou na Amidá de Mussaf).
Poemas especiais sobre as águas são acrescentados ao Mussaf como forma de pedirmos chuvas na quantidade e na hora certas. Neste dia também recitamos o Yizkor, em memória de nossos entes queridos já falecidos, após a leitura da Torá.
No Shabat de Shemini Atzéret ou nos dias intermediários (Ḥol Hamoed) é costume ler o Kohélet: o Eclesiastes, atribuído ao Rei Salomão, que o teria escrito “no outono” da sua vida, reconhece a fragilidade da vida material e a importância da conexão com o Divino.
Yizkor
Na maioria das comunidades judaicas reformistas e liberais, costuma ser realizado em Yom Kipur e no último dia de Pessaḥ. Nas demais comunidades, também ocorre em Shavuot e em Sheminí Atzéret/Simḥat Torá.
Tefilin
Em Ḥag não se coloca. Em Ḥol Hamoed (dias intermediários), o costume sefaradi é não colocar; o costume ashkenazi é colocar, mas tirar antes de Halel.
Cumprimentos
Em Ḥag, dizemos Ḥag Sameaḥ (felizes festas). Em Ḥol Hamoed se diz Moadim Lessimḥá (que sejam dias de alegria) e se responde com Ḥaguim Uzmanim Lessasson (que as Festas e suas épocas venham com felicidade).
O respeito à igualdade e à integridade
No séc. 1, o filósofo judeu Filon de Alexandria comentava sobre Sukot: “O último dos feriados religiosos do ano se chama Sukot, que se inicia no inverno, quando o dia e a noite se igualam. Disso aprendemos duas coisas: devemos respeitar a igualdade (integridade) e odiar a desigualdade (desonestidade)... O registro de Sukot serve para nos lembrar:... em sua riqueza – da pobreza; nos dias do seu auge – da humildade; no seu poder – da simplicidade dos tempos de paz..., pois não há nada que deve nos agradar mais do que lembrar os tempos ruins durante o melhor dos bons tempos... quem coloca diante dos olhos o que é bom e o que é ruim... claro está que será uma pessoa plena de gratidão...” (em “Sobre as Leis”, art. 204).
A Lei e a Boa Intenção
Certo dia, Reb Naḥman de Breslav foi convidado por um judeu humilde para visitar a sua suká. O homem havia comprado as melhores tábuas, decorações caras e belas pinhas para cobrir a suká, mas gastou muito mais do que poderia. Reb Naḥman aceitou o convite e o visitou em Sukot, acompanhado por um aluno.
Ao entrarem na tenda, o aluno sussurrou ao rabino: “Rabino, a suká não foi construída de acordo com a halaḥá”, mas o rabino permaneceu em silêncio. Depois que foram embora, Reb Naḥman comentou com seu aluno: “Este judeu enfrentou tantos problemas e gastou tanto dinheiro para montar a sua suká – e você me vem com questões sobre se ela é ou não kasher por minúcias da lei?!” (em The Sukkot/Simḥat Torah Anthology, ed. Philip Goodman, JPS, 1973, pág. 97)
Shlomit constroi uma suká
de Naomi Shemer (trad.: Uri Lam)
Shlomit constrói uma suká
a cobre de folhas e de luz ela se faz –
é com isso que ela se ocupa hoje.
Mas esta não é só uma suká
De folhas e de luz:
Shlomit constrói uma suká de paz.
Rabino Uri Lam