Purim
5785 / 2025
14 a 15 de Adar / 13 a 14 Março
Purim celebra a vitória de Mordechai e Ester sobre o malvado Hamán na Antiga Pérsia. O rito central da festa é escutar na sinagoga a leitura da Meguilát Ester (ou simplesmente A Meguilá), o Livro de Ester. Toda vez que o nome de Hamán é pronunciado, fazemos de tudo para cobri-lo com vaias e um estardalhaço produzido por raashanim (espécie de reco-recos), buzinadas e gritos.
Ao nos aproximarmos de Purim, a coisa que vem à mente é a alegria, dançar, brincar, comer e beber até não poder mais. A Meguilá começa com estas festanças na corte da Pérsia. Todos participam: nobres e plebeus das mais variadas crenças e etnias, inclusive os judeus.
É de se supor que os judeus viviam bem no reinado de Achashverósh: uma comunidade judaica livre e integrada à vida da capital, Shushán. Se nos colocarmos no lugar deles e pensarmos em nossas vidas hoje, em São Paulo por exemplo, entenderemos que as condições não são más: temos as nossas sinagogas, clubes, escolas, instituições políticas e beneficentes. Por outro, também frequentamos ambientes não religiosos: vamos ao cinema, ao teatro, a shows, bares, clubes, à praia, relacionamo-nos com todo mundo, participamos de atividades políticas, culturais e sociais as mais diversas, sem maiores problemas. Ao longo da história, os judeus quase sempre se integraram significativamente nas sociedades em que viveram. E quase sempre influenciaram e foram influenciados pelo meio.
Uma das reflexões que o Relato de Ester pode nos trazer é: se os limites entre a identidade judaica e a identidade do meio em que vivemos for rompido, ainda poderemos dizer que somos judeus? O que fazemos nós, que vivemos não na capital Shushan, mas em São Paulo, para seguirmos sendo judeus?
Quase no final da Meguilá, lemos que Haman e seus filhos foram enforcados. Alguns dizem que o que mantem o povo judeu unido são as ameaças externas, o antissemitismo. Isso é fato, mas não contempla todos os motivos que nos mantêm unidos. Talvez algumas pessoas e instituições judaicas invistam muita energia em responsabilizar os outros como a personificação de todos os sofrimentos do povo judeu. Como se, caso conseguíssemos apagar o nome de Haman e acabar com o antissemitismo, todos os nossos problemas estivessem resolvidos. Mas não adianta condenar o inimigo externo à forca se não realizarmos um processo interno de tikun, de correção de rumo pessoal e comunitário, como povo judeu.
Sabiamente, a tradição judaica foca não na morte dos inimigos, mas em ações virtuosas. A mitzvot mais importantes de Purim, a meu ver, são mishloach manot e matanot laevionim: enviar comidas gostosas para os amigos e fazer doações para os necessitados.
O tikun recomendado em Purim não é só reforçar os laços comunitários para nos sentirmos protegidos dos inimigos. O mais importante é fortalecer os laços de convivência entre amigos e familiares, e ao mesmo tempo ajudar a quem precisa, assegurando assim a dignidade de todas as pessoas, sem distinção. Se reunirmos as duas mitzvot: fortalecer a convivência para ajudar o próximo, ainda melhor.
A mensagem de Purim me parece ser que não basta ser judeu por nascimento ou por adesão ao povo judeu, mas sim se tornar constantemente judeu e judia, por meio de ações práticas que reforcem as relações comunitárias: aproximarmo-nos mais uns dos outros em favor do bem estar de todas as pessoas.
E quais são as mitzvot de Purim?
O que fazer para dizer que você vivenciou a festa como se deve?
1. Escutar a Leitura da Meguilá e fazer barulho quando escutar o nome do malvado Hamán, justamente para que o seu nome não seja escutado.
2 Participar de uma seudá, uma refeição festiva em comunidade, com a família, suas amigas e amigos.
3 Enviar Mishlôach Manot: envie e receba porções de comidinhas gostosas. O costume é enviar pelo menos dois tipos de comidas (e bebidas) gostosas para pelo menos duas pessoas que você gosta: pode ser Oznê Haman (orelhas de Hamán) ou Humentaschen (bolsas ou carteiras de Hamán), chocolate, bolo, frutas, bebidas ou o que você acha que irá agradar. Colocar junto um cartão com uma mensagem bonita e bem humorada pode ser legal também. Uma observação: é claro que não comemos orelhas nem bolsas. São uma espécie de pasteis recheados, uma delícia!
4 Enviar Matanot Laevionim. Em Purim também é uma obrigação fazer o maior número possível de pessoas felizes. Envie porções de comidas gostosas ou alimentos para pessoas que você sabe que precisam ou para instituições beneficentes.
PURIM SAMÊACH!
Rabino Uri Lam