Sigd – O Feriado Judaico Etíope da Aliança
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29 de Cheshván / 29 a 30 de Novembro
Sigd significa “serviço religioso” ou “prostração” em amárico, língua camito-semítica cujo alfabeto é o ge’ez. Por ter origem semítica, o amárico, língua oficial da Etiópia, tem algumas semelhanças com o hebraico.
A contagem para o Sigd começa em Yom Kipur, no dia 10 de Tishrê do calendário hebraico, e é comemorado 50 dias depois, no dia 29 de Cheshván – em algum momento entre outubro e novembro. De acordo com a tradição judaica etíope, neste dia Deus se revelou a Moisés pela primeira vez no Monte Sinai. O feriado simboliza a aliança do povo judeu com a Torá.
Preparativos para o Sigd
Na véspera do Sigd, na Etiópia, todos, de crianças a idosos, se preparavam com grande expectativa para o dia seguinte. Era costume preparar roupas especiais, lavá-las para o feriado e recitar orações especiais. Os Kohanim abatiam vacas e ovelhas e preparavam a carne para uma refeição comemorativa na quebra do jejum, ao final do feriado, e todos se reuniam nas aldeias centrais, onde o festival era realizado.
A celebração era realizada em uma colina elevada, por dois motivos:
1) Reencenar a ascensão de Moisés ao Monte Sinai no Dia da Entrega da Torá.
2) Um lugar elevado era considerado sagrado.
Antes de iniciar as orações, os kohanim ou anciãos da comunidade subiam o morro até o local de oração, a fim de verificar se tudo estava limpo e puro; e para reforçar a cerca ao redor do local. Em seguida preparavam, na parte da frente da cerca, um lugar para a Orit, a Torá etíope escrita no alfabeto ge’ez (Orit é semelhante ao aramaico Oraita, referente à Torá escrita).
Ritos
Assim como em Yom Kipur, o feriado é marcado por um dia de jejum e orações no qual os fiéis, vestidos de branco, caminham até o pico de uma montanha – como se fosse o Monte Sinai. O Kessim (ancião da comunidade) segura a Orit. Depois de lerem a Orit, recitarem salmos e orações, os judeus etíopes confessam seus pecados e pedem perdão. Assim como no final do Yom Kipur, no final do Sigd as orações terminam com o desejo de celebrar o Sigd no próximo ano em Jerusalém.
Significado do Feriado
O Sigd conecta a autoavaliação espiritual do indivíduo, feita em Yom Kipur, à tragédia central do povo judeu: o Exílio na Diáspora após a destruição do 2º Templo Sagrado de Jerusalém, no ano 70 da era comum.
O sentido básico do Sigd é que, para ter o mérito de um dia ir a Jerusalém, não basta se arrepender e jejuar em Yom Kipur. É preciso contar sete semanas durante os quais o arrependimento e a expiação do Yom Kipur possam se estabelecer. No 50º dia o ciclo se fecha: retorna-se à experiência do Yom Kipur como uma comunidade que passou por uma vivência reparadora e de elevação da consciência moral, individual e coletiva.
Fonte Bíblica – Neemias 8:5-6, 9:3
Esdras abriu o pergaminho à vista de todo o povo – pois estava mais elevado do que todo o povo. Ao abri-lo, todo o povo se levantou. Então Esdras abençoou o Eterno, o grande Deus, e todo o povo respondeu: “Amen! Amen!”, com suas mãos erguidas.
Então as pessoas abaixaram as cabeças e se prostraram (vaikdu) diante do Eterno com os rostos no chão. (Neemias 8:5-6) De pé em seus lugares, leram o Sefer Torá do Eterno, seu Deus, por seis horas; e por outras seis horas se confessaram e se prostraram diante do Eterno seu Deus. (Neemias 9:3).
Origens
As origens do Sigd remontam às práticas religiosas dos judeus etíopes conhecidos como Beta Israel (a Comunidade de Israel), que por séculos mantiveram a sua fé nas montanhas da Etiópia. A primeira menção por escrito é do século 15, quando os judeus etíopes eram perseguidos por imperadores cristãos e muitas vezes forçados à conversão ao cristianismo. Uma vez que o feriado celebra a Aliança entre Deus e o Povo de Israel, o Sigd é um testemunho de resiliência e resistência cultural e religiosa.
Os Judeus Etíopes - Beta Israel
Os Beta Israel viviam no norte e noroeste da Etiópia, em mais de 500 aldeias espalhadas, entre populações predominantemente muçulmanas e cristãs. Em 1973 os foram formalmente reconhecidos como judeus de acordo com a Halachá – a Lei Judaica – em Israel; mas só em 1977 as autoridades israelenses decidiram que eles tinham direito de fazer aliá e imigrar para Israel.
Grandes operações foram montadas para transportar milhares de judeus etíopes para Israel entre os Anos 70 e 90 do século XX. Esta migração em massa trouxe consigo a tradição do Sigd para o Estado de Israel. Em 2008 o governo israelense reconheceu oficialmente o Sigd como feriado nacional. Hoje vivem cerca de 160 mil judeus etíopes em Israel.
Sigd em Israel hoje
Embora celebrado principalmente pela comunidade Beta Israel, o Sigd vem ganhando popularidade em Israel. Nos últimos anos, diversas comunidades judaicas liberais e reformistas têm celebrado o Sigd junto às lideranças religiosas e aos judeus Beta Israel.
A celebração envolve uma peregrinação até Har haZeitim (o Monte das Oliveiras), em Jerusalém, onde as pessoas se reúnem para escutar os líderes espirituais da comunidade judaica etíope lerem trechos da Torá e compartilharem ensinamentos religiosos. A oração pela reconstrução de Tzion e pelo retorno à Terra Santa continuam a ser temas centrais do Sigd, simbolizando a conexão indissolúvel entre os judeus etíopes, o povo judeu como um todo e a Terra de Israel.
A comunidade Beta Israel utiliza a ocasião para reforçar seus laços culturais, transmitir tradições para os mais jovens e compartilhar a riqueza de sua herança. A música, a dança e as roupas tradicionais desempenham um papel fundamental nas festividades, proporcionando uma experiência sensorial que une as gerações.
Rabino Uri Lam